A Salvador que eu gostava - anos 50 e 60

Quem está próximo dos 80 recorda que Salvador já foi muito melhor de se viver.
.
A cidade era menor, todos se conheciam, poucos carros na rua, e se dispunha de um bom sistema de transporte público composto de bondes, ônibus, lotações, e os chamados carros de praça, os táxis, e até ônibus elétricos na cidade baixa. Quantas amizades se faziam pela coincidência de horários!
.
Tudo convergia para a Praça da Sé - o grande terminal de ônibus, e a Rua Chile, onde se situavam lojas, livrarias, e nas proximidades os cinemas. A Rua Chile era ponto diário de políticos e outros poucos ocupados, cada qual com seu poste ou sua loja preferida para “estacionar“.
.
À noite podia-se andar a pé, ninguém perdia festa fosse onde fosse, inexistiam assaltos e drogas. Dançavam-se grandes boleros, ainda hoje prestigiados. As gerações modernas desconhecem: dançava-se praticamente abraçado, e de rosto colado quando a sintonia perfeita se dava. Hoje nem se tocam, balançam os braços, e no máximo dizem Hu-hu!...
.
Todos vibravam com Luiz Gonzaga, Tom Jobim, Vinicius, Jovem Guarda, Roberto Carlos, Chico, Gil, Caetano, e as famosas músicas italianas até hoje lembradas.
.
A TV não existia (só em 1959), nada atrapalhando a leitura, que, por sua vez gerava conversas inteligentes e consistentes, ao lado de acaloradas discussões políticas. Salvador editava quatro jornais, A Tarde, Jornal da Bahia, Diário de Notícias e o Estado da Bahia, e fervia em cada campanha eleitoral.
.
A UFBA crescia em número de unidades de formação de altíssima qualidade, tudo fruto do gênio criativo de Edgard Santos - o Reitor Magnífico, e com sua parceria o Governador Lomanto Jr. fez a Reforma Administrativa que criaria a nossa PGE em 1966.
.
Como estamos no campo do Direito, iniciei cursando a Faculdade ainda na Lapa, onde hoje se situa a OAB, e professores da melhor qualidade proporcionavam um estabelecimento padrão de ensino.
.
Salvador começaria a mudar com o Prefeito Hélio Machado, em 1954 - primeiro Prefeito eleito diretamente, ocorrendo a maior transformação com Antônio Carlos Magalhães, em 1967, com as grandes vias estruturais (Bonocô, Ogunjá, avenidas de vale, Paralela, etc.) proporcionando a interligação e a expansão da cidade.
.
A partir daí, embora se colhendo as inovações viárias e permitindo a criação de bairros-cidades descentralizados, Salvador foi mudando, chegando às dimensões atuais.
.
Aos 471 anos, Salvador é boa de viver, mas nunca no clima dos anos 50 e 60!
.
(Lafayette de Azevedo Pondé Filho, Procurador do Estado da Bahia)