Sensibilidade momentânea

O Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado anualmente em 05 de junho, é o principal veículo do Programa da Organização das Nações Unidas, para incentivar a conscientização em prol do meio ambiente. Trata-se hoje da maior plataforma global de sensibilização pública, cujas comemorações, neste ano, serão sediadas na Colômbia e terão como tema central a biodiversidade. No Brasil, contudo, inexistem motivos para comemorar.

Mesmo sem a desejada flexibilização das normas ambientais, parece que “uma boiada está passando” por cima da Amazônia, que detém cerca de 20% da biodiversidade do Planeta. Segundo dados do Sistema de Alerta de Desmatamento (SAD), do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (IMAZON), o desmatamento, somente no mês de abril de 2020, foi o maior dos últimos dez anos. Trata-se de um aumento de 94,4% em relação ao mesmo período do ano passado, conforme dados oficiais dos sistemas do INPER (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), o que demonstra que nem mesmo a pandemia do Novo Coronavírus foi capaz de diminuir temporariamente o ritmo de devastação na floresta.

O Brasil orgulha-se de ser considerado o país da “megadiversidade” e, mesmo já tendo sediado conferências mundiais, para discutir esforços de proteção do meio ambiente com o desenvolvimento socioeconômico, ainda está longe de dar uma resposta efetiva e exemplar aos demais países.

Engana-se, contudo, quem pensa que se trata de um dever único e exclusivo dos órgãos ambientais governamentais. Garantir o equilíbrio ecológico do meio ambiente para nós e para as futuras gerações requer uma mudança de consciência geral da população, a começar pela adoção de atitudes simples do dia-a-dia.

Pergunto-lhes: quantos de nós fazemos coleta seletiva do lixo domiciliar? Bombardeados com notícias a respeito da degradação da natureza e dos sinais já evidentes do desequilíbrio ambiental em escala global, tendemos a subestimar erroneamente a força de nossas ações particulares em favor do Planeta. A poluição, o consumo exacerbado dos recursos naturais, a geração de lixo e a expansão agrícola e mineradora em detrimento dos habitats naturais estão levando à extinção da biodiversidade.

É certo que o período pós-pandemia demandará a relativização do que se considera normalidade. Precisamos, então, urgentemente repensar não apenas a forma como nos relacionamos com as demais pessoas, mas também nossa interação com o meio ambiente como condição e possibilidade de coexistência sustentável, e talvez não haja outro momento propício senão agora, enquanto grande parte da população ainda se encontra de quarentena. A nossa sensibilidade não pode ser apenas momentânea, caso contrário, a ameaça de hoje se tornará a realidade de amanhã.

 

(Arlley Cavalcante de Oliveira, Procurador do Estado da Bahia)